bhide10_NICOLAS MAETERLINCKBELGA MAGAFP via Getty Images_chatgpt Nicolas Maeterlinck Belga Maga/AFP via Getty Images

A verdade chata sobre a IA

CAMBRIDGE – Especialistas que alertam que a inteligência artificial traz riscos catastróficos comparáveis à aniquilação nuclear ignoram a natureza gradual e difusa do avanço tecnológico. Como argumentei em meu livro de 2008, The Venturesome Economy (“A Economia Audaciosa”, em tradução livre do inglês), as tecnologias transformadoras – dos motores a vapor, aviões, computadores, telefonia móvel e internet aos antibióticos e vacinas de mRNA – têm evoluído por meio de um jogo prolongado, massivo e de múltiplos atores que desafia o comando e o controle que vem de cima.

Os “vendavais de destruição criativa” de Joseph Schumpeter e as teorias mais recentes que anunciam avanços disruptivos enganam. Como vêm mostrando o historiador econômico Nathan Rosenberg e muitos outros, as tecnologias transformadoras não aparecem do nada. Em vez disso, avanços significativos exigem a descoberta e a superação gradual de vários imprevistos.

Novas tecnologias introduzem novos riscos. Invariavelmente, as aplicações militares se desenvolvem ao lado dos usos comerciais e civis. Aviões e veículos terrestres motorizados foram usados em conflitos desde a Primeira Guerra Mundial, e computadores pessoais e comunicação móvel são indispensáveis à guerra moderna. No entanto, a vida continua. Sociedades tecnologicamente avançadas desenvolveram mecanismos legais, políticos e de fiscalização da lei para conter os conflitos e a criminalidade que os avanços tecnológicos tornam possíveis. As decisões judiciais caso a caso são cruciais nos Estados Unidos e noutros países de direito consuetudinário (“common law”, no original em inglês). Esses mecanismos – como as próprias tecnologias – são evolutivos e adaptativos. Produzem soluções pragmáticas, não construções visionárias.

https://prosyn.org/Hh3GvANpt